Lamaçais – Eliane Duarte*
Lamaçais – Eliane Duarte*
Das ruínas de pedras
Do Recife
Entre cheias e vazantes
Do Capibaribe
Brota a fome morta de cansaço
Gélido soco nas entranhas embriagadas
Bamboleia a mulata nas escuras
Ao ver que a lua escarnada
Iludida por carinho de donzela
De remo a remo navega em seios fartos
Num mergulho a beira do caminho
Numa esteira de lama em seus cabelos
Consente ser amada a galopes
E murmúrios de cardumes
O filho que espera no seu ventre
Já sente o forte cheiro
Do caranguejo amordaçado
Que de antro em antro rasteja
Nas palafitas de zinco
Seu nome tem a cor das margaridas
E ao sorrir tem odor de azaléias
Esparramadas nos arcos da Aurora
Sacia a sede na represa
Escancara a boca no teu leito
Desabrochando a nudez de suas pontes
Tal quase morte de riacho esvaindo
Vai sumindo no horizonte
Dos arrecifes.
*Poetisa carioca radicada no Recife, com
várias Antologias publicadas.