Hoje acresci mais dez por cento ao meio século que já possuo e confesso que deixei muitos sonhos perdidos neste percurso, mas de forma incessante minha mente maquina tantos outros que nem sei como há lugar. Muitos deles que considerei a chance perdida da minha vida entendo que a mão do Criador me protegeu de uma roubada, outros, às vezes, me pego lamentando o quão poderia ter sido bom e resignado me contento com o que tenho, pois sei que é o que mereço sem um grama a mais ou a menos, apenas a medida justa.
Sou viciado em viver e colher cada dia por vez (CARPE DIEM) como se fosse um fruto maduro agora e que amanhã estará podre, aproveitando todos instantes intensamente, pois sei que a verdadeira vocação da raça humana é ser feliz, simplesmente isso, complicada tão somente por não aceitarmos que a forma de perseguir esta felicidade acontece de várias maneiras e são encaradas de outras mil diferentes, mas me perturba apenas a idéia que ocupemos nosso curto tempo, que poderia ser mais bem utilizado com a caridade, entre a aceitação ou rejeição do universo alheio.
Enquanto os mais jovens admiram a experiência advinda com o tempo, admiro a força de luta deles em perseguir seus ideais, suas preocupações com um mundo melhor, a facilidade que se adaptam às mudanças e a sede revolucionária de transformar tudo. Sem desmerecer o valor da experiência, comparo-a com um carro numa estrada com seus faróis iluminando o trecho já percorrido, pois a cada giro do pneu representa um momento novo, único, que não se repete e inusitado para todos.
Conservo no coração os espíritos simpáticos que reencontrei nesta vida, são tantas amizades que cruzam conosco para nosso crescimento evolutivo que até mesmo nossos opositores devem ser considerados nossos mestres, cada um deles à sua maneira complementando nossos seres mutuamente: É como se o Criador juntasse um aleijado a uma muleta, sempre. Quanto aos que julgo amigos (os irmãos que se podem escolher), cabem numa mão, são apenas cinco, embora conte com inúmeros conhecidos e simpatizantes, cuja amizade só o tempo porá à prova, destruindo ou solidificando estes relacionamentos. Sou assim, meus bens não são imensuráveis (caixão não tem gaveta) e os meus futuros netos, ou as pessoas que ainda não me conhecem não perderão muita coisa, pois se não nos encontramos durante esta mesma existência é porque não havia o que trocar no caminho constante da construção da evolução, do crescimento ético, moral e espiritual.
Parabéns pra mim e para os que me aturam, obrigado.
Bom Jardim. Maio. 13, 2011 – Sérgio Vieira de Melo.