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Crônicas

O Poeta e a Técnica

Para o poeta dois mais dois pode dar qualquer resultado, dependendo do momento vivenciado. Para ele o resultado não está atrelado a regras definidas, a conceitos estabelecidos, é apenas fruto dos acontecimentos da vida, das vivências de cada momento. Deste modo, a mesma vivência pode dar resultados bem diferentes, dependendo da situ␣ação. Para a técnica, dois mais dois é igual a quatro e ponto final. Ela não admite sequer discutir o assunto.

Para o poeta o casamento significa fluir na vida com alguém, saborear cada momento da convivência a dois com alegria e leveza. Para o poeta casar é caminhar junto com alguém pelas veredas da vida, aproveitar juntos as belezas do dia-a-dia, sem condições e sem restrições. Para a técnica o casamento significa um compromisso for␣mal, assinar pa␣péis, morar juntos, dormir na mesma cama e por aí vai. Tudo isso nada significa para o poeta se o amor não estiver presente, são apenas formalidades e as formalidades, por si sós, não preen␣chem as necessidades do seu coração.

O poeta gosta de não ter nada para fazer, de ficar à-toa na vida, de apenas sentir e observar a vida a pulsar dentro de si e ao seu derredor. Gosta de escutar a natureza, ob␣servar as pes␣soas, olhar a vida a se movimentar. Tanto a natureza quanto as pessoas são as fontes de inspiração para os seus poemas. A técnica precisa ocupar as suas horas com atividades concretas, detesta o não fazer nada, evita ficar consigo mesma apenas sen␣tindo o pulsar da vida.

O poeta não estabelece barreiras com a finalidade de determinar ou limitar o caminho a ser seguido. Para ele todas as possibilidades devem ser exploradas, elas propiciam o aprendi␣zado necessário para enriquecer a vida. O poeta sabe que alguns caminhos machucam, mas ofere␣cem expe␣riências fascinantes. A técnica impõe a si mesma muitas limitações. Depois fica a lutar para derrubar tais limitações, por ela mesma construídas, sem conseguir des␣frutar a beleza dos momentos oferecidos pela vida.

Para o poeta o sexo é uma coisa linda, o momento em que dois corpos e duas almas se fun␣dem e se transformam em uma unidade. O orgasmo para o poeta é um momento má␣gico em que dois seres se transformam em uma só coisa e se ligam

ao universo, formando uma unidade divina. Para a técnica o sexo é uma questão física, uma maneira de descarregar as energias do corpo físico, nada tem a ver com a alma.

Como conciliar estes dois mundos? A vida é realmente fantástica! Existe uma argamassa capaz de unir estes dois universos tão diferentes. Ela é capaz de ligá-los e permi␣tir uma con␣vivência prazerosa. Tal argamassa é produzida pelo coração. A falta desta argamassa não permite a construção de um relacionamento sólido e duradouro, mesmo quando existem muitas afinidades entre dois seres. Nós não nascemos sabendo fazer esta argamassa. Na construção diária do edifício da nossa vida, temos de aprender a fazê-la, saber qual a dosagem certa a ser utilizada em cada ocasião. Você sabe fazer esta argamassa?

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, junho de 2006.
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