Procurando alguma coisa?

Crônicas

Valquíria

Um sopro sublime de amor bafeja a vida de Valquíria. Aquela balzaquiana tinha encontrado finalmente o tão almejado amor da sua vida, do jeitinho que ela sempre sonhou. Ela até já tinha se conformado em ficar para titia. As suas irmãs mais novas já tinham se casado, somente ela continuava solteira, não por ser contra o casamento ou por falta de um pretendente que a tirasse do caritó. Alguns candidatos tinham surgido desde os tempos de colégio, alguns relacionamentos tinham acontecido sem que ela sentisse ser aquele o homem a dividir o leito conjugal com ela, até que a morte os separe.

Em uma reunião na casa de uma amiga ela conheceu Francisco, conversaram de maneira descontraída durante a maior parte da noite. Descobriram que tinham muitas afinidades e gostavam do mesmo tipo de diversão. Destas descobertas para marcarem um encontro para assistirem um filme que os dois estavam querendo ver foi um passo natural. Deste encontro surgiram outros programas, transformados em namoro quando cada um descobriu que gostava da companhia do outro. Depois de algum tempo começaram a passar os finais de semana juntos e o desfecho natural foi o casamento.

Com a ajuda financeira e o incentivo de Francisco ela deixou o antigo emprego e abriu um pequeno negócio que prosperou, impulsionado pelo seu entusiasmo e dedicação. Com o incentivo e apoio do marido ela estava realizando um sonho antigo de ter seu próprio negócio. Vieram os filhos, recebidos com muito amor, o que ampliou ainda mais as atividades de Valquíria, que ela exercia com alegria. Os anos passaram para ela como se estivesse vivendo um conto de fadas.

Mudei de cidade e perdi o contato, não tive mais notícias dos dois durante anos. Certo dia recebi um telefonema de uma mulher em estado de desespero, aos prantos ela não conseguia sequer dizer o seu nome. Passado algum tempo consegui entender que era Valquíria a me comunicar o falecimento de Francisco. Eu tinha sofrido o AVC há pouco tempo e não viajei para estar com ela e os seus filhos, por falta de condição física. Durante dias os telefonemas se sucederam sem o desespero diminuir. Eu nunca vi tamanha dor diante de uma separação provocada pela morte.

Marcos Antônio da Cunha Fernandes
www.marcosfernandes.org
João Pessoa, novembro de 2006.
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