Hoje é segunda-feira, acordo às duas horas da madrugada com uma poesia a cantar dentro de mim. Finjo não escutar e tento voltar a dormir, mas o seu canto era tão alto que resolvi levantar e anotar a poesia no papel, a fim de poder dormir em paz, não queria perder tempo de sono ligando e desligando o computador. Em cinco minutos a poesia esta registrada no papel, volto para a cama e me acomodo para retomar o sono, mas outra poesia surge e começa a ser escrita na minha cabeça. Levanto novamente, pego meu bloco de notas e a caneta, em poucos minutos a poesia é anotada. Volto para debaixo do lençol para tentar dormir. Quando os olhos começam a pesar de sono a Inspiração sopra nos meus ouvidos outra poesia. Não discuto com ela, saio da cama mais uma vez e registro no papel a poesia, a terceira no espaço de quarenta minutos, um pouco menos, um pouco mais.
Volto para cama e pergunto à Inspiração por que ela não escolhe um horário diurno para fazer suas visitas. Estou debaixo do lençol, a cama está macia e quente, a Inspiração deita ao meu lado, mas não deseja dormir, agora a danadinha quer contar o que aconteceu, digo para deixar para mais tarde, numa hora mais civilizada, viro para o outro lado e tento dormir. A Inspiração continua a falar pelos cotovelos e não me deixa dormir. Não sei a razão de até hoje não conseguir negar para uma mulher o que ela me pede carinhosamente, bem baixinho no meu ouvido. Aqui estou eu escrevendo na madrugada, fazendo a vontade de uma mulher caprichosa. Depois de escrever estes dois parágrafos, largo o papel e a caneta e vou dormir sem que a Inspiração volte a interromper meu sono, afinal já são quase quatro horas da madrugada.
Esta foi a primeira vez que escrevi três poesias em um só dia. Algumas vezes eu escrevi duas poesias no mesmo dia, mas com um espaço de tempo entre uma e outra superior a duas horas. Nunca tinha escrito três poesias (Morte, Desejos IV e Praia) no espaço de quarenta minutos. Após ter atendido ao pedido da Inspiração eu me arrependi, pois lembrei os dias em que ela me deixa abandonado, chorando a sua ausência, sem conseguir escrever uma só linha. Depois eu me lembrei que Inspiração é uma mulher e temos a obrigação de ser gentis com ela.
Eu já falei em várias ocasiões sobre os momentos de ausência da Inspiração, nãovamos ser repetitivos. Vamos falar somente da sua presença, a inundar minha alma de poesia e afastando para bem longe de mim a secura, a simples presença da Inspiração mantém a secura longe de mim, as duas não gostam de estar comigo no mesmo espaço de tempo. Bendita Inspiração!
João Pessoa, 10 de setembro de 2007.