Existem seres humanos que são do tipo “já”, isto é, quando têm alguma coisa para fazer eles arregaçam as mangas e executam as suas tarefas, não costumam deixar nada que pode ser feito hoje para o dia de amanhã. Gosto de gente assim e tenho baixa tolerância com as pessoas que sempre postergam as suas tarefas, depois ficam pedindo aos outros para ajudá-las a cumprir os prazos dos compromissos delas. O engraçado é que estas pessoas acham que os seus colegas e amigos têm a obrigação de auxiliá-las, deixando de lado as tarefas que lhes competem. Quando se trata de cumprir as tarefas profissionais e/ou particulares que nos cabem, ser do tipo “já” é sinal de responsabilidade com os compromissos assumidos.

Existem ocasiões em que ser do tipo “já” pode nos levar a cometer algumas imprudências. É necessário ser cauteloso ao dar uma resposta ou tomar uma decisão sobre um assunto complexo, sob pena de expressarmos incorretamente o que pensamos e sermos entendidos de maneira equivocada, decorrência natural da maneira como colocamos as nossas palavras. Nestas ocasiões postergar uma resposta é sinal de sabedoria. Decisões sobre assuntos importantes devem ser tomadas após algum tempo de reflexão. Diz o ditado popular: “prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Por outro lado, ser do tipo “postergador” em assuntos rotineiros pode causar muitos contratempos. Apresentamos a seguir um diálogo imaginário entre estes dois tipos, qualquer semelhança com fatos da vida real é mera coincidência.

― Você pode me ajudar com as minhas tarefas, pergunta o Postergador.

― Caso eu vá lhe ajudar não cumprirei os prazos assumidos para entrega dos trabalhos sob minha responsabilidade, responde o Já.

― Mas o chefe anda pegando no meu pé com os prazos dos meus trabalhos, caso eu não entregue estas tarefas hoje eu vou me complicar.

― Então você está pedindo que eu não cumpra os meus prazos e me complique para livrar a sua pele, muito interessante o seu pedido! Por que razão ficou boa parte do expediente da tarde conversando no telefone?

― Você é muito egoísta, não tem espírito de colaboração.

― Você já pensou nos impactos provocados nos trabalhos de seus colegas em decorrência de seus atrasos? Já pensou quantas vezes você atrasou a saída dos seus colegas porque ficou conversando e não concluiu suas atividades no prazo previsto? Isto é o que eu chamo de egoísmo e falta de coleguismo. Algumas pessoas já escreveram este fato nos relatórios de desempenho e isto certamente trará algumas conseqüências para você.

― Vocês estão me dedurando ao chefe, pergunta o Postergador.

― Quando seus colegas não recebem de você as tarefas no prazo estipulado e são obrigados a ficar depois do expediente para cumprirem as suas metas de trabalho, eles preenchem um formulário apontando as razões da necessidade de fazer hora extra. Você foi transferido para este departamento há pouco tempo, não sei a razão por que ainda não foi chamado para receber uma advertência pelos atrasos na execução de suas tarefas.

― Agora vocês complicaram a minha vida, é sempre assim em todo lugar que eu trabalho sempre encontro alguém para me prejudicar.

― Alto lá, coloca o Já, ninguém quer lhe prejudicar, os nossos colegas apenas relataram o que acontece para não serem prejudicados.

― Eles são uns delatores, isto sim. Você nunca deixou alguma coisa para fazer depois?

― As tarefas rotineiras eu as executo imediatamente. Quando uma tarefa é mais complexa eu trabalho nela durante algum tempo, discuto o assunto com outras pessoas, depois passo um ou dois dias sem pensar naquele trabalho antes de fazer a revisão final. Mas faço isso sem comprometer o prazo de entrega do trabalho.

― Eu nunca recebi uma tarefa complexa.

― Como você não cumpre os prazos das tarefas simples, a gerência tem medo que o mesmo aconteça com as tarefas mais complexas cujos impactos serão maiores para a organização, caso os prazos não sejam observados. Chega de conversa, tenho muitas atividades para entregar antes do final do expediente, coloca o Já.

― Você parece uma máquina, só pensa em trabalhar, responde o Postergador.

― Caso você queira continuar a conversar podemos nos encontrar depois do expediente, agora vou fazer jus ao meu salário.

― Já sei que hoje vou ter aborrecimentos para justificar a necessidade de trabalhar depois do expediente, ninguém quer me ajudar…

― Você só consegue enxergar o próprio umbigo!

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